5 Curiosidades sobre "Frankenstein" de Mary Shelley


Há 203 anos era publicado logo no início de Janeiro, o clássico Frankenstein (1818), considerado como a primeira obra de ficção científica, escrito pela jovem Mary Shelly de apenas 19 anos. 

Curiosamente de início o nome da autora foi omitido e a obra acabou por ser publicada de forma anónima em três volumes e apenas 500 exemplares impressos, mas tinha o prefácio do seu noivo Percy Shelley e foi dedicada ao seu pai William Godwin., jornalista e escritor. Uma das justificações era o fato de ser escrito por uma jovem mulher e se temerem críticas, numa época em que a voz das mulheres na literatura ainda tinha pouca expressão e aceitação. Assim apenas em 1823 "Frankenstein" foi publicado com o nome da autora Mary Shelley.

O romance começou por ganhar notoriedade com a sua adaptação por diversas companhias de teatro alguns anos depois e tornou-se um fenómeno com as centenas de versões, adaptações e mesmo "derivações" que teve ao nível do cinema, desde a primeira em 1910, ainda na era do cinema mudo, até aos nossos dias.

A história acredito que seja conhecida da grande maioria: um ambicioso aspirante a cientista, Viktor Frankenstein, decide gerar uma criatura a partir de várias partes de cadáveres, dando-lhe vida, mas assustado com a proeza abandona-a de imediato, deixando-a à sua sorte. A criatura vai vagueando enquanto vai aprendendo várias coisas, como ler e escrever, no entanto a sua aparência leva-o a não ser aceite e até agredida. Aí decide então procurar o seu criador para lhe pedir justificações mas também uma companheira... durante essa procura e confronto o monstro revela-se e torna-se perigoso.

Mas as inúmeras adaptações cinematográficas da história acabaram por desvirtuá-la e levar à criação em todos nós de algumas ideias equivocadas sobre alguns aspetos da narrativa de Mary Shelly e da própria criatura. O que sabem deste clássico e do famoso monstro?!

1- 
Surgiu em resultado de um desafio
Num verão passado à beira do Lago de Genebra na Suiça em que Mary se encontra confinada com o futuro marido Percy Shelley e outros vultos das letras inglesas, entre eles Lord Byron, surge o repto para cada um escrever um conto sobrenatural no intuito de se descobrir quem conseguiria escrever a melhor história de horror. Depois de terem ocupado o tempo a ler histórias de horror e fantasmas decidem desafiar-se a escrevê-las e Mary acaba por escrever "Frankenstein" 

2 - Tem o subtítulo: O Prometeu Moderno
O subtítulo faz alusão ao mito grego de Prometeu, estabelecendo o paralelo entre as ações do criador do monstro e a figura de Prometeu, um titã que ao roubar o segredo do fogo, só reservado aos deuses, para doá-lo aos homens, recebe um castigo eterno dado por Zeus

3 - História é contada através de cartas
A narrativa é nos apresentada através das cartas escritas por um pesquisador no comando de uma expedição ao Polo Norte à sua irmã e que a dada altura encontra um náufrago, o Dr. Viktor Frankenstein que lhe conta toda a sua história de vida assim como a do monstro que criou, como tudo se passou e tudo o que aconteceu até ali. Acabamos assim por ter um romance epistolar com uma história dentro de outra, contada por interposta pessoa e em que a história recontada pelo capitão Robert Walton vai servir de moldura à narrativa de Frankenstein.

4 - A criatura não tem nome
Embora o ser criado seja normalmente conhecido como Frankenstein esse é o apelido do seu criador (eu própria só o descobri ao ler o livro) e não lhe é atribuído qualquer nome no romance. Mary Shelly não o descreve sequer como “monstro” e refere-se a ele com designações como “demónio”, “ogre” ou “coisa”.  No entanto após o lançamento da versão cinematográfica de 1933 o público começou a chamar Frankenstein à própria criatura e acabou por ficar. Alguns justificam esta associação como reflexo de uma certa paternidade de Viktor em relação à sua criação.

5- O monstro é amarelo
Quando se pensa no monstro Frankenstein é provável que imaginemos uma criatura verde com o rosto quadrado e parafusos nas têmporas tal como nos foi dado conhecer nos filmes. No entanto, a descrição da autora é a de um ser com a pele amarelada, cabelos longos de um negro lustroso, dentes proeminentes e estatura elevada – cerca de 2,5 metros.

O fascínio de Frankenstein vai muito além do facto de ser uma história de terror e é por isso que se tornou tão popular e foi tão revisitado. Um clássico da ficção científica, o primeiro, que cria um cenário de futuro ao nível da ciência, explorando o seu impacto e/ou consequências na sociedade e nos indivíduos ao abordar questões éticas que ainda hoje são atuais como o uso do conhecimento, a criação de vida de forma artificial, o fazer-se ou brincar de Deus para além do medo do desconhecido e do diferente assim como a importância das aparências.

É que Mary Shelley preocupada com a evolução da tecnologia numa altura em que a ciência e a medicina se encontravam em intenso processo de renovação, decidiu trazer para a história algumas discussões científicas e filosóficas que estavam a surgir naquele momento. Uma história que falasse dos medos misteriosos da nossa natureza e simultaneamente despertasse horror arrepiante.

Confesso que não me despertou assim todo esse horror nem sequer algum temor ou susto, apenas alguma inquietação que me conseguiu de facto prender. Nem mesmo a criatura me assustou ou a consegui encarar como o monstro horrível e cruel de que tinha ideia e que acabou desmistificada. Em determinadas alturas até me causou alguma empatia ao demonstrar os seus sentimentos, o ressentimento do seu abandono pelo criador, a tristeza e a incompreensão de não ser aceite pela sociedade e o desejo de ter uma companheira, no entanto depois acaba por justificar todas as suas ações mais terríveis com a atitude dos outros. 

Vale a pena conhecer melhor este monstro e refletir nas muitas questões que este clássico suscita.

*** (Gostei) 


Outras Edições 

Mary Shelley
(1797-1851) foi uma escritora inglesa, filha do jornalista e filósofo político William Godwin e da feminista Wollstonecraft que também escreviam e acabaram por inevitavelmente colocar  a literatura no seu caminho.
O primeiro romance que escreveu, "Frankenstein", acabou por ser a sua mais importante obra, a que mais repercussão teve e que colocou o seu nome nos cânones da literatura. Depois deste ainda escreveu mais alguns romances mas que não tiveram grande impacto e nem se encontram traduzidos para português como "The Last Man" (1826), considerado por alguns como a primeira obra de ficção distópica publicada, "The Fortunes of Perkin Warbeck" (1830), um romance histórico, "Lodore" (1835), "Falkener" (1837).
Escreveu ainda contos para anuários, diários de viagens e biografias de notáveis italianos, espanhóis e até portugueses, para além de se ter tornado na editora da obra do seu marido, o poeta inglês Percy Shelly


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