Abecedário Festival da Palavra - Livrarias e Editoras, Irmãs Desavindas?


Entre os dias 8 e 11 de Março, Lisboa deu as boas vindas a um novo festival literário, o Abecedário Festival da Palavra, uma iniciativa da Cabine de Leitura da Praça de Londres que tem como objectivo divulgar e promover as livrarias de rua, valorizar a língua e a literatura portuguesa. 

Através da homenagem a uma palavra que nesta primeira edição foi  Fronteira e da qual foram explorados os seus diferentes sentidos (real, geográfico, natural, económico, cultural, religioso, social, psicológico e de pensamento) decorreram várias actividades que incluíram tertúlias, cafés literários e leituras encenadas por vários locais da cidade como as, claro está, livrarias de rua, bibliotecas, cafés e lojas com história.

O objectivo será o de construir ao longo dos próximos anos o ABECEDÁRIO como uma genuína manifestação da língua portuguesa.

No Café Império discutiu-se ou se preferirem conversou-se de forma bem informal e participativa sob o mote da questão Livrarias e Editoras, Irmãs Desavindas? que se enquadrava na Fronteira de pensamento. O painel contou com o jornalista Luís Leal Miranda também fundador da micro-editora Livraria Plutão e Dulce Garcia, editora de ficção portuguesa da Planeta e foi moderado por Tiago Pais, jornalista.


A primeira ideia a surgir foi a de que as Livrarias e as Editoras deveriam ter uma relação próxima e que o caminho natural deveria ser precisamente o da aproximação e não o do desentendimento ou conflito. Mais, que essa é uma relação necessária no sentido de fomentar a interacção entre os  autores e os leitores criando uma dinâmica impossível de ser encontrada nas grandes superfícies e livrarias on line.

Claro que existem duas realidades, a das grandes livrarias e a das livrarias independentes e entre as quais não consegue haver, de todo, uma competição  leal, uma vez que as primeiras conseguem sempre oferecer preços e promoções que hipotecariam ainda mais qualquer pequena livraria que as praticasse. Falou-se na aposta em modelos híbridos, ou seja, livrarias com outras valências paralelamente aos livros como a de café, bar ou restaurante e também de uma oferta diversa que pode ir muito além dos livros novos com livros em segunda mão e outros produtos culturais.

Esta ideia foi apontada como uma das soluções para a sobrevivência das já escassas livrarias de rua que desta forma também podem oferecer um espaço diferente para a divulgação dos livros às editoras tanto com mais intimismo e proximidade e também outro dinamismo.

Ao nível das editoras verifica-se também a óbvia diferenciação entre as pequenas editoras e as de maiores dimensões, muitas das quais inseridas em grandes grupos editoriais e que têm obviamente relações e condições diferentes com as livrarias. A partir do exemplo da Livraria Plutão de Luís Leal Miranda pôde-se perceber que estas quase só conseguem vender à consignação em pequenas livrarias ou mesmo noutros nichos de mercado e que a viabilidade das suas edições nas grandes livrarias é quase nula e que quando existe está muitas vezes relegada para os espaços mais recônditos. Já editoras como a Planeta conseguem ver os seus títulos destacados em loja durante aproximadamente 15 dias mas se for em montras já terão de pagar para tal e por isso apostam cada vez mais na venda directa nos próprios sites de forma a não serem tão reféns das livrarias.

Foi ainda incontornável não se fazer referência ao afastamento das pessoas em relação aos livros apesar da catadupa de edições que se vão publicando e para o qual se entendeu contribuir, entre outros factores, a pouca divulgação que é feita actualmente à literatura nos media a  par de por vezes algum elitismo na escolha dos destaques. Neste contexto vão ganhando cada vez mais importância os influenciadores ao nível dos blogs e do Youtube (booktube) cuja importância foi evidenciada na medida em que são cada vez mais uma grande fonte de divulgação e claro influência.

É verdade que a literatura e o mundo dos livros têm sofrido de um afastamento generalizado de pessoas e dos poderes políticos a vários níveis, mas o que editoras e livrarias necessitam é precisamente de serem irmãs conciliadoras e  de criarem entendimentos e parcerias que lhes permitam prosseguir na obtenção de leitores.

Edições da Livraria Plutão

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