Mais um sobre Anne Frank - O Diário Gráfico (de Anne Frank)


Depois de no ano passado ter lido, pela primeira vez, O Diário de Anne Frank e ter ficado rendida a esta menina que se fez mulher num anexo em plena II Guerra Mundial e à intensidade de toda essa vivência fiquei com a certeza de que queria ler tudo sobre ela e não resisti a comprar esta versão do seu Diário e poder ver esta história ganhar forma em imagens.

A 27 de Janeiro comemora-se o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto em virtude da libertação do campo de concentração de Auschwitz pelas tropas da União Soviética em 1945, tal tem levado a que durante este mês existam sempre uma série de projectos evocativos deste dia que visam incentivar à leitura sobre este período e a verdade é que têm surgindo cada vez livros que versam esta temática. Mas O Diário de Anne Frank continua a ser sem dúvida uma das primeiras memórias a surgir quando pensamos em Holocausto e II Guerra Mundial uma vez que se trata, de facto de um documento sem igual enquanto relato da vida de reclusão oito judeus num anexo em Amesterdão  e, principalmente, o pensamento de uma menina perante tão trágico momento.




Em 2017 este livro completou 70 anos e ganhou esta nova versão, a de novela gráfica. A Fundação Anne Frank convidou o cineasta Ari Folman e o ilustrador David Polonsky a adaptar o livro no suporte novela gráfica com o intuito de manter a actualidade deste testemunho. A ideia era adaptá-lo a uma nova linguagem num formato mais adequado às novas gerações e às suas características, era traduzi-lo graficamente e levá-lo aos leitores mais jovens.





A maior surpresa ao lê-lo foi que, mais do que só a ilustração do que Anne Frank escreveu, encontramos um diálogo entre as imagens e as palavras com ilustrações cheias de humor que extrapolam a realidade, caricaturando-a. Vemos Anne no papel das suas estrelas de cinema preferidas de quem tinha recortes na parede, os moradores retratados como animais durante uma refeição retratando a forma como cada um encarava a comida (um bem muito precioso e que escasseava), o regulamento do anexo ou o último pensamento de cada um quando a polícia esteve no anexo e julgaram que a sua hora ia chegar. Confesso que não estava à espera desta leveza e de sorrir tantas vezes com os pensamentos de Anne e as situações por ela relatadas e imaginadas traduzidas em imagens bastante expressivas.


É isso mesmo, por incrível que possa parecer este Diário está repleto de humor e ironia, traço da personalidade da própria Anne Frank, que acaba por fazer o contraponto com as dificuldades e desespero presente no quotidiano da vida daquele grupo de judeus enclausurados. O retrato desse quotidiano é feito quase ao pormenor com a ilustração dos desentendimentos domésticos, as peripécias provocadas pela falta de alimentos, o sufoco da vida sem liberdade e com pouco espaço para dividir, mas também ao nível das relações interpessoais como a difícil convivência de Anne Frank com a mãe, o choque com os outros moradores, os primeiros arrebatamentos da adolescência, e depois... o medo, a guerra e a ameaça da morte.  (Estes acontecimentos mais depressivos foram transformados em cenas fantásticas ou expressos em sonhos)

E apesar de estarmos perante uma interpretação dos dois autores, respeitosa e crédula, das palavras de Anne Frank feita através de imagens cheias de expressividade também vamos tendo ao longo do livro parte do texto original com transcrições de entradas completas do próprio Diário. Como a derradeira de 1 de Agosto de 1944 em que Anne fala das suas contradições e de estar muitas vezes dividida em duas não dando a conhecer o seu lado melhor e mais belo e onde mostra mais uma vez toda a sua maturidade e auto-conhecimento.

Esta é a primeira banda desenhada autorizada pela Fundação Anne Frank que já se encontra traduzida em 40 línguas. E só vos digo que vale mesmo muito a pena tanto para os leitores mais jovens, para quem foi especificamente pensada, como para todos os outros e para quem já leu o original "O Diário de Anne Frank" que ficará deliciado com esta versão diferente mas incomparável. No entanto quem nunca tenha lido acho que seria preferível começar pelo original porque para além, de claro está, dar uma visão mais pormenorizada também acabará por perder algum impacto se lido posteriormente.

***** (Adorei)
ANNE FRANK
"Quando começam todos a cair-me em cima fico zangada, depois triste, e finalmente acabo com o coração virado do avesso, a parte má para fora e a parte boa para dentro, e continuo a tentar encontrar uma maneira de me tornar aquilo que gostaria de ser, e que poderia ser se...não existisse mais ninguém no mundo."

Uma menina judia a viver em Amesterdão que ao fazer 13 anos recebe um diário a quem vai dar nome, chama-lhe Kitty e faz dela a sua melhor amiga e confidente. Vai ser através dele que vamos ficar  a conhecer Anne, uma rapariga no turbilhão da adolescência com todos os seus dramas e conflitos, de personalidade bem vincada e opinativa, mas também reflexiva, sonhadora e com muito humor e ironia, durante os 743 dias em que vai viver escondida num anexo em Amesterdão.


ARTIGOS RELACIONADOS

Comentários

  1. Tenho o Diário de Anne Frank e já o li há muito tempo. E gostaria muito de o reler. Eu nem sou de reler livros, mas acho que é daquelas histórias que de vez em quando é bom reler.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Concordo, é daqueles livros que nunca é demais reler, que nunca nos deixa indiferentes e que acaba sempre por nos emocionar. E esta versão está mesmo muito bem conseguida, maravilhosa, tens de ler. Jinhos

      Eliminar

Enviar um comentário

Mensagens populares deste blogue

O Carteiro de Pablo Neruda: Livro vs Filme

Os Filhos da Mãe de Rita Ferro

Amar Depois de Amar-te de Fátima Lopes ou os diferentes caminhos da superação amorosa - OPINIÃO