Lançado em 1873, em pleno final de século XIX, altura em que os relatos de viagens eram uma das poucas formas de se ficar a conhecer outras realidades, A Volta Ao Mundo em Oitenta Dias foi um autêntico sucesso de vendas tendo sido traduzido em simultâneo para inglês, italiano e espanhol pelo tema excitante e inovador. Inicialmente publicado em folhetins nos principais jornais europeus levou os seus correspondentes a acompanharem as aventuras do gentleman inglês que daria a volta ao mundo como se de alguém real se tratasse, tornando-se um marco na obra de Júlio Verne.
A VOLTA AO MUNDO EM OITENTA DIAS
de Júlio Verne
Guerra e Paz Editores (2016)
Literatura de Viagens (Clássico)
296 páginas
«Teria viajado, Era provável, porque ninguém conhecia melhor do que ele o mapa mundo. Não havia lugar, por afastado que fosse, de que não parecesse ter conhecimento especial. Às vezes, mas em poucas palavras, breves e claras, corrigia os mil boatos que circulavam no clube a propósito de viajantes perdidos ou extraviados; indicava as verdadeiras probabilidades, e as suas palavras muitas vezes acharam-se como que inspiradas por um espécie de dom profético, uma vez que o que acontecia acabava sempre por as justificar. Era um homem que devia ter viajado por toda a parte - pelo menos em espírito.»
Uma aposta feita para provar a veracidade de um artigo de jornal que fazia o cálculo de 80 dias para dar a volta ao mundo leva Phileas Fogg, um rico, respeitável, enigmático e fleumático gentleman inglês a arriscar toda a sua fortuna numa viagem para percorrer o mundo nesse espaço de tempo, uma vez que afirmava tal ser possível mesmo tendo-se em conta possíveis imprevistos.
Extremamente metódico, Mr. Fogg planeia desde logo toda a viagem ao pormenor e parte no dia seguinte com um criado francês que tinha acabado de contratar, Passpartout, o qual ironicamente ansiava há muito por um patrão calmo e rotineiro a quem pudesse servir tranquilamente. A diferença de personalidades entre ambos vai trazer um colorido divertido à história, o criado extrovertido, emotivo e vivaz que se envolve numa série de peripécias que algumas vezes acabam por atrasar a viagem, salvo pelo rígido, controlado e quase impassível patrão sempre pronto a desculpá-lo das suas trapalhadas e até a desembolsar algum dinheiro para as resolver (Quem sabe se não podemos ver aqui o estereótipo do francês vs o inglês). Acaba por criar-se uma amizade e Passpartout vai fazer questão de honrá-la com a sua lealdade e alguns actos heróicos em prol do cumprimento do objectivo do patrão.
Para dar mais alguma emoção à viagem, Mr. Fogg vai ser perseguido em grande parte dela pelo agente Fix, um polícia inglês que o acusa do roubo de cinquenta e cinco mil libras feito no Banco de Inglaterra um dia antes da sua partida.
Com todos estes contornos é óbvio que esta nunca seria uma viagem para conhecer e dar a conhecer os locais por onde o apostador passaria embora em algumas ocasiões se fique a saber um pouco mais de determinada cultura e costumes. E Phileas Fogg também não fazia questão de observar e admirar o que quer fosse e pudesse, limitando-se a passar os dias a jogar whist, um jogo de cartas clássico inglês, sempre que tal era possível. Mesmo assim vamos tendo ao longo da viagem uma ou outra descrição de determinados sítios e conhecendo um ou outro costume local. Como na Índia, onde através da observação de uma procissão brâmane ficamos a conhecer o costume hindu que obrigava a viúva de um homem morto por causas naturais a sacrificar-se na pira funerária e ser queimada viva juntamente com o corpo do marido. Mas a estranheza e barbaridade deste costume para qualquer europeu vai impelir os viajantes a tentarem salvar a viúva.
Do Egipto à Índia, China, Japão e Estados Unidos a viagem é feita através dos mais variados meios de transporte desde os planeados e expectáveis navio e comboio, até aos utilizados pela força das circunstâncias como o elefante e o trenó.
Com uma escrita simples e fluída, capítulos curtos iniciados com títulos que os resumem e nos dão a ideia do que se irá passar, a leitura torna-se fácil e rápida ajudada pela sucessão de coisas a acontecerem. Em algumas ocasiões a fluidez da narrativa é nos dada pela revelação do desfecho de determinada situação antes da explicação detalhada de como tudo aconteceu o que acaba por torná-la também intrigante mesmo até à última cena.
Foi a minha primeira leitura de Júlio Verne e embora não tenha ficado completamente rendida, fiquei com curiosidade de ler outras coisas do autor e viver outras das suas aventuras também para apurar se em tantos livros escritos acabará por utilizar sempre a mesma fórmula ou se têm características distintas.
Gostei da personagem do Mr Philleas Fogg, de ele não ser apenas o que aparentava em toda a sua impassividade que chegava a roçar a arrogância, mas ter muito mais para dar e ir revelando todo o seu carácter. Gostei da amizade improvável que se criou entre o patrão e o criado. Gostei da forma da critica subtil. Gostei do final e do seu toque de romance.
Extremamente metódico, Mr. Fogg planeia desde logo toda a viagem ao pormenor e parte no dia seguinte com um criado francês que tinha acabado de contratar, Passpartout, o qual ironicamente ansiava há muito por um patrão calmo e rotineiro a quem pudesse servir tranquilamente. A diferença de personalidades entre ambos vai trazer um colorido divertido à história, o criado extrovertido, emotivo e vivaz que se envolve numa série de peripécias que algumas vezes acabam por atrasar a viagem, salvo pelo rígido, controlado e quase impassível patrão sempre pronto a desculpá-lo das suas trapalhadas e até a desembolsar algum dinheiro para as resolver (Quem sabe se não podemos ver aqui o estereótipo do francês vs o inglês). Acaba por criar-se uma amizade e Passpartout vai fazer questão de honrá-la com a sua lealdade e alguns actos heróicos em prol do cumprimento do objectivo do patrão.
Para dar mais alguma emoção à viagem, Mr. Fogg vai ser perseguido em grande parte dela pelo agente Fix, um polícia inglês que o acusa do roubo de cinquenta e cinco mil libras feito no Banco de Inglaterra um dia antes da sua partida.
Do Egipto à Índia, China, Japão e Estados Unidos a viagem é feita através dos mais variados meios de transporte desde os planeados e expectáveis navio e comboio, até aos utilizados pela força das circunstâncias como o elefante e o trenó.
Com uma escrita simples e fluída, capítulos curtos iniciados com títulos que os resumem e nos dão a ideia do que se irá passar, a leitura torna-se fácil e rápida ajudada pela sucessão de coisas a acontecerem. Em algumas ocasiões a fluidez da narrativa é nos dada pela revelação do desfecho de determinada situação antes da explicação detalhada de como tudo aconteceu o que acaba por torná-la também intrigante mesmo até à última cena.
Foi a minha primeira leitura de Júlio Verne e embora não tenha ficado completamente rendida, fiquei com curiosidade de ler outras coisas do autor e viver outras das suas aventuras também para apurar se em tantos livros escritos acabará por utilizar sempre a mesma fórmula ou se têm características distintas.
Gostei da personagem do Mr Philleas Fogg, de ele não ser apenas o que aparentava em toda a sua impassividade que chegava a roçar a arrogância, mas ter muito mais para dar e ir revelando todo o seu carácter. Gostei da amizade improvável que se criou entre o patrão e o criado. Gostei da forma da critica subtil. Gostei do final e do seu toque de romance.
Não Gostei de algumas descrições minuciosas e mesmo técnicas ao nível da navegação que tornam o livro mais enfadonho e a leitura mais arrastada. Tal faz a narrativa ganhar em certas alturas alguma lentidão como quando se descreve detalhadamente o barco utilizado e a forma de navegação.
*** (Gostei)
Jules Verne [Júlio Verne] (1928-1905) foi um escritor francês com quase cem obras publicadas, sendo, enquanto um todo, as segundas obras mais publicadas a seguir à Bíblia e o autor mais traduzido logo depois de Agatha Christie com traduções em cerca de 148 línguas.
Em 1863 dá início à sua série Viagens Extraordinárias (11 livros) com "Cinco Semanas em Balão" onde também se insere esta "Volta ao Mundo em Oitenta Dias" e marca a sua estreia na escrita. a partir daí escreveu quase um livro por ano. Alguns dos mais conhecidos foram "Viagem ao Centro da Terra" (1864) "Da Terra à Lua" (1865), "Vinte Mil Léguas submarinas" (1870), "Miguel Strogoff" (1876), "As Atribulações de Um Chinês na China" (1879) e o "O Raio Verde" (1882).
Muitas das suas obras foram adaptadas inúmeras vezes para cinema e séries de televisão, sendo que "A Volta ao Mundo em Oitenta Dias" teve duas adaptações, uma em 1956 por Michael Nichols com Cantinflas e direito a Óscar para melhor filme e outra em 2004 por Frank Coraci com Jackie Chan e críticas bastante negativas.
Edição da Guerra e Paz Editores (ilustrada e com informações adicionais)
Em 1863 dá início à sua série Viagens Extraordinárias (11 livros) com "Cinco Semanas em Balão" onde também se insere esta "Volta ao Mundo em Oitenta Dias" e marca a sua estreia na escrita. a partir daí escreveu quase um livro por ano. Alguns dos mais conhecidos foram "Viagem ao Centro da Terra" (1864) "Da Terra à Lua" (1865), "Vinte Mil Léguas submarinas" (1870), "Miguel Strogoff" (1876), "As Atribulações de Um Chinês na China" (1879) e o "O Raio Verde" (1882).
Muitas das suas obras foram adaptadas inúmeras vezes para cinema e séries de televisão, sendo que "A Volta ao Mundo em Oitenta Dias" teve duas adaptações, uma em 1956 por Michael Nichols com Cantinflas e direito a Óscar para melhor filme e outra em 2004 por Frank Coraci com Jackie Chan e críticas bastante negativas.
Edição da Guerra e Paz Editores (ilustrada e com informações adicionais)
Deve ser uma experiência de leitura diferente lido da adolescência :) Ainda comecei, mas acabei por não avançar com a leitura porque o livro da biblioteca tinha várias páginas em branco! bah... hei de lê-lo noutra altura :) Muito catitas na foto! Já estou a ler o próximo clássico, espero poder ir ao encontro :) beijinhos e boas leituras!
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