Conversa/debate "Os Portugais dos Escritores"


Na Biblioteca Municipal da Amadora e no âmbito da Festa do Livro'17, a conversa girou à volta da "portugalidade" na actual produção literária. Se e como é apresentado Portugal na literatura nacional contemporânea, que marcas da nossa própria realidade e da essência enquanto portugueses tem ela?

Os escritores Nuno Costa Santos e Ana Margarida de Carvalho moderados por Rui Lopo discorreram sobre estas questões e outras tantas relacionadas numa conversa despretensiosa com alguma divagação e poucas respostas que valeu acima de tudo pela troca de ideias e o conhecimento dos autores e da sua obra.



Umas das primeiras conclusões foi, aludindo ao livro Jangada de Pedra de José Saramago e à ideia de iberismo do autor, o reconhecimento do traço distintivo da ingenuidade e da ausência de pragmatismo na literatura portuguesa não só enquanto ibéricos mas também como fazendo parte de um círculo mais alargado que incluí a América Latina.

Portugal foi definido como um bairro com vários mundos em que existe uma mundividência, uma convivialidade com a diferença que em parte acaba por se traduzir depois na arte do paradoxo e  na ambiguidade ou no facto de não sermos unívocos. Estas foram apontadas como algumas das características da prosa portuguesa.

As obras têm sempre algo dos autores, das suas vivências e as dos autores portugueses vão acabar por ter sempre marcas da sua portugalidade, da sua essência de portugueses e referências delas mais ou menos evidenciadas.

Nuno Costa Santos, autor, cronista e guionista de programas de televisão e rádio no seu último livro e primeiro romance "Céu Nublado com Boas Abertas" traz-nos um Portugal entre a realidade actual dos Açores e a vivência de um internamento na estância do Caramulo nos anos 40. Uma história carregada de si, da sua origem açoriana e dos seus pois baseia-se em parte na vida dos seus avós. Anteriormente em "Melancómico" trouxe-nos a experiência da vida nos bairros de Lisboa com algumas das suas particularidades e vicissitudes e revela-nos esse Portugal.

Ana Margarida de Carvalho, jornalista e escritora tem, nos seus romances, aborda mais o país na ao nível do seu passado mais ou menos recente. Em "Que Importa a Fúria do Mar" retrata a realidade das prisões políticas do Estado Novo através dos olhos de um prisioneiro do Tarrafal  já  em "Não se pode morar nos olhos de um gato", o mais recente, vai até finais do século XIX num naufrágio ao largo do Brasil após a abolição da escravatura em que figuras daquela época como um escravo, um fidalgo ou um padre carregam todos os seus estigmas.

Acima de tudo Portugal precisa dos seus narradores e de que se contem, retratem e consequentemente se fixem as suas diferentes realidades para conhecimento e/ou aprendizagem. Esta questão da aprendizagem gerou alguma celeuma ao nível da sua intencionalidade, mas não sendo muitas vezes uma intenção deliberada acaba por se verificar na medida em que se dá a conhecer a realidade, os Portugais e os seu intervenientes.





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