26 de fevereiro de 2017

World Book Tour - Afeganistão

Nesta volta ao mundo em livros, todos os meses é visitado um país diferente através de um dos seus autores. Se a história também decorrer no país de origem tanto melhor pois é uma forma de se ficar a conhecer não só o autor de determinada nacionalidade como a própria realidade do país. De A a Z será feita uma tour pelo mundo através dos livros. E a origem desta viagem é o World Book Tour, um grupo no facebook que pôs em prática  esta ideia e onde se partilham leituras, trocam pontos de vista e fazem sugestões.

Janeiro foi o mês do Afeganistão e eu descobri o escritor Khaled Hosseini e com ele também fiquei a conhecer a história da sua nação, marcada pelos conflitos armados e pelo sofrimento das suas inevitáveis consequências. Ao longo de 30 anos andamos, maioritariamente, por Cabul, a capital e vamos assistindo às convulsões e transformações políticas e sociais de um país que passou de uma sociedade ocidentalizada e desenvolvida a um estado pobre e retrógrado, dirigido pelos Talibãs, em que as  mulheres são escravas de regras rígidas que as tornam meros objetos e a cultura é menosprezada e até destruída.

Cabul destruída e tomada pelos Talibãs
CABUL na década de 90
Jovens raparigas nas ruas de Cabul com um estilo ocidental
CABUL nos anos 60
    











«(...) achando espantoso que as histórias de todos os afegãos sejam marcadas pela morte, pela perda e por inimagináveis desgostos. E no entanto, como ela testemunha, as pessoas acham a maneira de sobreviver, de seguir em frente. Pensa na sua própria vida e em tudo o que lhe aconteceu, e admira-se por também ela ter sobrevivido, por estar viva...»

Li e descobri os "Mil Sóis Resplandecentes", cujo título é retirado de uma frase de um poema sobre Cabul de Saib-e-Tabrizi, um poeta persa do século XVII: "Não se podem contar as luas que brilham sobre os seus telhados, nem os mil sóis resplandecentes que se escondem por trás dos seus muros.".

Estes Mil Sóis Resplandecentes evocam a beleza da cidade, cantada em todo o poema, que não se desvanece mesmo no contraste com os escombros e o sangue que a habitam, mas também evoca todos os sobreviventes de anos e anos de guerra, e a beleza das mulheres, que continuam a brilhar mesmo enclausuradas, escondidas do mundo exterior não obstante sejam elas a dar a vital dádiva de vida à sociedade afegã. Uma homenagem do autor à força e resiliência das mulheres afegãs que tal como as protagonistas da história brilham com o irreprimível esplendor de mil sóis.

Património Mundial da Unesco no Afeganistão
Budas de Bamiyan
«Saíram do táxi, e o Babi apontou - Lá estão eles. Olhem. Tariq susteve a respiração. Laila também. E nesse momento soube que mesmo que vivesse até aos cem anos nunca mais veria algo tão magnífico. Os dois Budas eram enormes, erguendo-se muito mais alto do que ela havia imaginado por todas as fotografias que vira. Esculpidos num rochedo escarpado descorado pelo sol, examinavam-nos lá de cima, tal como haviam examinado há quase dois mil anos, imaginava Laila, as caravanas que atravessavam  o vale na Rota da seda. De ambos os lados, ao longo do nicho saliente onde se encontravam as estátuas, miríade de grutas perfuravam o rochedo.»

Com Khaled Hosseini conhecemos o Afeganistão pela mão de um autor que respira o país onde nasceu que teve de o abandonar devido aos conflitos armados, mas a que volta sempre em todos os seus livros. Este livro conta-nos a história mais recente do país sob a perspectiva das mulheres e prende-nos com a intensidade e densidade de uma narrativa que sabemos ter muito de real.  


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