World Book Tour - Afeganistão

Nesta volta ao mundo em livros, todos os meses é visitado um país diferente através de um dos seus autores. Se a história também decorrer no país de origem tanto melhor pois é uma forma de se ficar a conhecer não só o autor de determinada nacionalidade como a própria realidade do país. De A a Z será feita uma tour pelo mundo através dos livros. E a origem desta viagem é o World Book Tour, um grupo no facebook que pôs em prática  esta ideia e onde se partilham leituras, trocam pontos de vista e fazem sugestões.

Janeiro foi o mês do Afeganistão e eu descobri o escritor Khaled Hosseini e com ele também fiquei a conhecer a história da sua nação, marcada pelos conflitos armados e pelo sofrimento das suas inevitáveis consequências. Ao longo de 30 anos andamos, maioritariamente, por Cabul, a capital e vamos assistindo às convulsões e transformações políticas e sociais de um país que passou de uma sociedade ocidentalizada e desenvolvida a um estado pobre e retrógrado, dirigido pelos Talibãs, em que as  mulheres são escravas de regras rígidas que as tornam meros objectos e a cultura é menosprezada e até destruída.

CABUL na década de 90
CABUL nos anos 70
    









« (...) achando espantoso que as histórias de todos os afegãos sejam marcadas pela morte, pela perda e por inimagináveis desgostos. E no entanto, como ela testemunha, as pessoas acham a maneira de sobreviver, de seguir em frente. Pensa na sua própria vida e em tudo o que lhe aconteceu, e admira-se por também ela ter sobrevivido, por estar viva...»

Li e descobri os "Mil Sóis Resplandecentes", cujo título é retirado de uma frase de um poema sobre Cabul de Saib-e-Tabrizi, um poeta persa do século XVII: "Não se podem contar as luas que brilham sobre os seus telhados, nem os mil sóis resplandecentes que se escondem por trás dos seus muros.".
Estes Mil Sóis Resplandecentes evocam a beleza da cidade, cantada em todo o poema, que não se desvanece mesmo no contraste com os escombros e o sangue que a habitam, mas também evoca todos os sobreviventes de anos e anos de guerra, e a beleza das mulheres, que continuam a brilhar mesmo enclausuradas, escondidas do mundo exterior não obstante sejam elas a dar a vital dádiva de vida à sociedade afegã. Uma homenagem do autor à força e resiliência das mulheres afegãs que tal como as protagonistas da história brilham com o irreprimível esplendor de mil sóis.

Budas de Bamiyan
«Saíram do táxi, e o Babi apontou - Lá estão eles. Olhem. 
Tariq susteve a respiração. Laila também. E nesse momento soube que mesmo que vivesse até aos cem anos nunca mais veria algo tão magnífico. Os dois Budas eram enormes, erguendo-se muito mais alto do que ela havia imaginado por todas as fotografias que vira. Esculpidos num rochedo escarpado descorado pelo sol, examinavam-nos lá de cima, tal como haviam examinado há quase dois mil anos, imaginava Laila, as caravanas que atravessavam  o vale na Rota da seda. De ambos os lados, ao longo do nicho saliente onde se encontravam as estátuas, miríade de grutas perfuravam o rochedo.»

Com Khaled Hosseini conhecemos o Afeganistão pela mão de um autor que respira o país onde nasceu que teve de o abandonar devido aos conflitos armados, mas a que volta sempre em todos os seus livros. Este livro conta-nos a história mais recente do país sob a perspectiva das mulheres e prende-nos com a intensidade e densidade de uma narrativa que sabemos ter muito de real.  


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